Empresas brasileiras finalmente encurtam o rastro deixado por países desenvolvidos no que se refere a governança corporativa e sustentabilidade. Estudos já consolidados mostram que há formas de potencializar lucros e aumentar produtividade por meio de investimentos em responsabilidade social e sustentabilidade. Afinal, o mundo, em breve, será conduzido por gerações que alinham seu consumo ao respeito a direitos e deveres, conceitos dos quais as companhias, de todos os segmentos, podem se beneficiar.
Globalmente, a sigla Enviromental, Social and Corporate Governance (ESG) – tripé que se traduz em governança ambiental, social e corporativa – reúne uma série de características e posicionamentos para nortear o novo comportamento empresarial. Cunhado em 2004 pelo Banco Mundial, ESG não é exatamente uma novidade Brasil afora, mas chega com força ao país desde 2019, quando a pandemia forçou a reconfiguração de toda a sociedade.
Nova ordem de consumo
A escassez de matérias-primas, a falência generalizada de negócios e a queda vertiginosa de índices econômicos fizeram as grandes companhias do mercado global retomarem a discussão sobre a preservação ambiental, emissão de gases estufa, uso de solo e impacto ambiental. Nada, porém, ocorre por acaso. Pesquisas indicam que em 2030 75% da força de trabalho no planeta será composta de millenials e integrantes da geração Z.
Ambas representam grande potencial de reposicionamento ético generalizado, de modo que ignorar suas características pode resultar em fatalidades no contexto de negócios. Para se ter uma ideia, 83% desse público confia mais em empresas ambientalmente responsáveis; 67% recomenda produtos e serviços desse tipo de empresa; 89% trocarão de marca se a empresa não estiver associada a uma boa causa; 87% comprarão produtos e serviços de empresas baseadas em valores ESG; e 76% boicotarão empresas carentes de valores ESG.
ESG: que valores são esses, afinal?
No âmbito social, empresas devem respeitar direitos do trabalhador, medir seu impacto na comunidade, praticar relações responsáveis com a clientela e investir em segurança e saúde para todos os envolvidos. No que diz respeito ao contexto ambiental, a empresa que opta por adotar o ESG precisa demonstrar preocupação com índices de mudança climática, se comprometer com preservação ambiental e uso de recursos naturais e emissão de poluentes.
Quanto à governança corporativa, as companhias devem ser vigilantes com os direitos dos acionistas, realizar frequente gestão de riscos, adotar transparência nas finanças e amarrar tudo isso com medidas anticorrupção.
De modo geral, o intuito é garantir vitalidade à empresa, equidade social, prosperidade econômica e desenvolvimento sustentável. Assim, empresas podem elevar a qualidade de vida de trabalhadores, clientes e empresários por meio da criação de soluções inovadoras e sustentáveis, de modo a otimizar recursos e apoiar a reutilização de matérias renováveis.
Em suma, trabalhadores felizes têm potencial para produzir e vender mais; consumidores, por sua vez, se habilitam a comprar mais e melhor; enquanto empresários, na mesma linha, demonstram coesão e credibilidade, o que os torna aptos a lucrar mais e adquirir mais vitalidade para suas empresas.
Aplicação no mercado do luto
Todo processo de transformação é cheio de obstáculos, mas também pode ser uma oportunidade para redescobrir potenciais adormecidos, desenvolver habilidades e passar a trabalhar com obtenção de resultados satisfatórios. No entanto, como fazer isso no segmento de luto, por exemplo?
Cemitérios e crematórios, por exemplo, podem passar a avaliar o seu impacto tanto no uso do solo como na emissão de gases estufa e gasto de energia decorrentes dos processos de enterro e cremação, respectivamente. Com números, é possível convencer a clientela a optar por alternativas mais conscientes de se despedir de entes querido – sem uso de madeira, com madeira de replantio e/ou materiais renováveis para lápide e, túmulos.
Nos processos administrativos e de atendimento, empresas podem abandonar o uso de panfletos, guias de venda, apresentações de serviço impressos e passar tudo para o plano digital. Por meio de tecnologias como a de georreferenciamento (GPS), permitem que as pessoas se localizem melhor em cemitérios, acessem homenagens digitais e compartilhem tudo com familiares e amigos. Ainda, podem amenizar o gasto de combustível e poupar tempo de ambos os lados com atendimentos virtuais em vídeo, recursos já amplamente utilizados durante a pandemia.
Esses procedimentos são apenas referências para uma reconfiguração empresarial cada vez mais difícil de ignorar. No geral, todos ganham com mais direitos trabalhistas respeitados, com planeta poupado e com compensação ambiental. Além do que, a exploração estratégica da visibilidade desse tipo de ações pode render crescimentos significativos, principalmente nessa fase em que o conceito ainda não é amplamente difundido no país. Quem assumir a vanguarda nesses processos no Brasil seguramente estará com sua marca mais consolidada na década seguinte.